Ineficiência na saúde / cobertura de seguro, conforme o Plano de Transformação da Saúde, não foi uma conquista orgulhosa — pelo contrário, tornou-se um símbolo do fracasso na gestão do sistema de saúde do país. Assim como a depreciação da moeda nacional destruiu a estrutura da economia e o poder aquisitivo das pessoas, resultando apenas em aumento da pobreza, insatisfação social, elevação dos custos de produção e devastação da capacidade de consumo dos cidadãos. Devemos afirmar com clareza: aqueles que teorizaram a desvalorização da moeda sob o pretexto de apoiar a produção deram um golpe mortal nos fundamentos econômicos do país. Se essas políticas fossem criminalizadas, sem dúvida seriam consideradas “a mãe de todas as corrupções”.
A pobreza financeira não é apenas uma questão de subsistência, mas uma porta aberta para a corrupção estrutural, autorebaixamento da gestão e, por fim, traição aos interesses públicos. Essa situação é mais do que um desafio econômico — é uma ferida profunda no corpo decisório do país. Uma sociedade que, em vez de avançar rumo à justiça, se vê obrigada a se render à pobreza sistêmica, tem seu destino traçado de antemão.
Hoje, acessar conhecimentos e tecnologias médicas modernas, capazes de salvar milhares de vidas, tornou-se uma missão impossível. A razão? Preços exorbitantes, rotas monopolistas e restrições cambiais. Aqueles que lutam pela difusão desses avanços são rotulados como “especuladores” ou “comerciais demais” e excluídos. Isso contribui para a queda do Irã no ranking mundial de adoção de tecnologias médicas modernas. O falecido Dr. Sheibani foi um dos poucos que conseguiu romper parte desse monopólio.
No mundo de hoje, o conhecimento médico faz parte da cadeia global de valor. Um país cuja taxa de câmbio oscila diariamente não se integra a essa cadeia — é excluído. A tecnologia obedece à razão econômica, não aos slogans.
Se eu quiser hoje importar a versão mais recente dos meus produtos tecnológicos para o país, enfrento barreiras cambiais complexas que tornam tal importação praticamente impossível. Neste contexto, estamos diante de um “bloqueio cambial” — um modelo ineficiente que afasta tanto o investidor quanto o inovador. Mas os maiores prejudicados são o povo nobre do Irã, que, embora mereça ter acesso aos melhores serviços e produtos, é obrigado, sob o pretexto de “apoio à produção interna”, a pagar preços de carros cinco estrelas e ficar com os modelos Pride, Quick e Atlas.
Vivemos numa economia de favores, não de produção real, mas de “quase-produção”. Produtos que subsistem por meio de barreiras à importação e subsídios cego; chamam isso de produção nacional. Porém o produto final não é nacional, nem produzido — é apenas uma combinação de tarifas, câmbio privilegiado e ausência de concorrência.
A raiz dessa desordem está em três fatores principais: o baixo nível de conhecimento de alguns tomadores de decisão, conselheiros pouco instrutivos e a instabilidade crônica da moeda nacional. O resultado dessa combinação letal não é desenvolvimento, mas estagflação — uma das condições mais calamitosas na economia: inflação sem crescimento.
No setor de energia, a situação é semelhante. Alguns, sem compreensão técnica ou visão ambiental, promovem o desenvolvimento de painéis solares como a salvação. Mas sabem eles que a vida útil desses painéis é limitada? Que as baterias de lítio usadas tornam-se, após alguns anos, montanhas de resíduos tóxicos e não recicláveis? A reciclagem exige enormes quantidades de água doce — água suficiente para secar rios inteiros.
Entretanto, usinas nucleares, quando devidamente revisadas e mantidas, podem durar até cem anos e produzir eletricidade estável e eficiente. O que não se vê é o futuro de nossos filhos. O que não se ouve é a voz dos verdadeiros especialistas. Os lunáticos que veem o sol como mercadoria são os mesmos que ignoram até a próxima geração.
Ainda existe, numa aldeia chamada “Kilan”, um gerador a diesel da marca “Stanford” que, após 70 anos de operação, ainda pode alimentar eletricamente uma rua. Esse exemplo claro mostra que tecnologias autóctones e tradicionais, quando bem geridas e mantidas, funcionam muito melhor do que projetos da moda, frágeis e insustentáveis.
O Plano de Saúde do Dr. Hashemi foi uma das raras conquistas pontuais baseadas em três elementos: conselheiros competentes e patriotas, coragem política e estabilidade cambial. Hoje, nenhum desses elementos existe em nosso sistema de saúde. Por isso, hoje em dia não há programa de saúde, nem mesmo de curto prazo, em que se possa confiar.
Peças para montagem de certos equipamentos médicos são hoje importadas por vias obscuras, às vezes tradicionais e não padronizadas, por alguns autoproclamados fabricantes e exportadores — às vezes até por meio de contrabando. Em certos casos, o volume dessas importações supera o total das exportações alegadas por esses mesmos fabricantes. Essa estrutura, onde “porteiros carregando com as costas” e mercadores informais substituem a cadeia de abastecimento legal, não é eficiente nem respeitável. Em breve, testemunharemos uma grande evasão de membros e descrédito nas organizações setoriais que, com poucos associados, ostentam a bandeira das exportações — exceto algumas instituições que ainda preservam sua integridade.
Outros, por interesses pessoais, apoiam o mercado negro de câmbio e o comércio informal. Por quê? Porque nesse modelo não restam vestígios — sem licitação, sem auditoria, sem transparência —, e assim se apresentam como operários de grande envergadura. Nesse ambiente, carros como Pride e vans Paykan são impostos à população ao preço de veículos cinco estrelas, e colhem lucros exorbitantes de um sistema fora da lei.
O mais triste é que já tivemos marcas reconhecidas mundialmente: Darougar, Arj, Azmayesh, Pars Electric, Roghan Ghoo e Narges eram apenas alguns exemplos de produtos que competiam, sem restrições, contra Philips, Nivea, National, Toshiba, Toyota e General Electric. Naquela época, havia importação livre e produção nacional porque a concorrência era vista como motor de crescimento, não ameaça.
Chegávamos a ter dois modelos idênticos da televisão colorida Grundig: um nacional, com controle sem fio e recarga, e outro importado com controle com fio. Hoje, com todo esse monopólio, ainda esperamos por um produto digno para o consumidor iraniano. O problema atual não é a falta de talento ou capacidade de produção, mas decisões erradas, políticas restritivas e estruturas falhas de tomada de decisão.
Em indicadores internacionais — desde competitividade global até inovação e ambiente de negócios —, o Irã está abaixo de países que enfrentam guerra ou instabilidade política. No campeonato global da inovação, estamos descalços, num campo de terra, apenas assistindo os demais avançarem.
Se nosso governo econômico fosse um médico, entenderia a dor, mas suas prescrições pertenceriam a outro século. Não enfrentamos os desafios do mundo moderno, mas os resultados de políticas antiquadas e equivocadas, como tarifas altas e banimento de importações — erros repetidos inúmeras vezes. Um país que tem câmbio elevado e moeda fraca e ainda quer importar tecnologia do século XXII, ao mesmo tempo que proíbe bens de saúde em nome do apoio à produção interna, ou é ingênuo ou não sabe o papel da ciência moderna na saúde — um exemplo é ainda tentar banir a cirurgia robótica com o Dr. Alfi ou considerar ovos de codorna remédio para todas as afecções.
Hoje, repensar as políticas macroeconômicas, industriais e de saúde não é uma escolha — é uma necessidade histórica para a sobrevivência do país. Se essa revisão não ocorrer, o que cairá não serão apenas os indicadores econômicos; será também a credibilidade da cura e saúde de uma nação.
Autor: Dr. Alireza Chizari